Editorial
Movimento espírita:
Histórias passadas e possibilidades futuras.
Quando os espíritos promoveram no século XIX a “invasão organizada”, simultaneamente em várias partes do mundo, inclusive na Bahia, que resultou na codificação do Espiritismo na França, mesmo os participantes mais ativos deste processo, na dimensão dos encarnados, não poderiam ter a noção clara das suas consequências.
O fenômeno mediúnico utilizado como instrumento de construção do saber, obedecendo ao modelo científico da época, inaugurava uma nova etapa na investigação humana, além de promover o desvelamento de um universo dantes apenas inquirido por alguns poucos, médiuns, pitonisas, videntes, ainda assim, de forma assistemática.
Natural, portanto, que nos primórdios do movimento espírita, no centro das atenções, estivesse a mediunidade, inicialmente, como meio de obtenção de informações, e, posteriormente, recurso terapêutico para uma humanidade sofrida. A somatória de experiências mediúnicas resultou na hierarquização evolutiva dos entrevistados do mundo espiritual, conforme apresentou Allan Kardec em O Livro dos Espíritos, em classes e ordens, demonstrando que o simples fato de serem desencarnados não os tornava mais sapientes que a humanidade encarnada.
Espíritos promoveram no século XIX a “invasão organizada”, simultaneamente em várias partes do mundo, inclusive na Bahia.
E desta interlocução interexistencial científica, brotou um saber filosófico, uma concepção religiosa dinâmica, uma influência na arte que tornou o conhecimento espírita bem mais complexo, uma completa cosmovisão que pretende superar o materialismo, realizando uma verdadeira revolução paradigmática, substituindo a matéria pelo espírito como centro organizador do Cosmos.
Assim como Cabral pensou o Brasil, inicialmente como uma ilha, para descobrir posteriormente que se tratava de um vasto continente inexplorado, os pioneiros do Espiritismo, à exceção dos seus grandes líderes, não puderam vislumbrar, imediatamente, a enorme potencialidade transformadora da cosmovisão espírita.
Os que viemos depois, com os obstáculos maiores resolvidos em termos de aceitação social, podemos, subindo nos ombros dos gigantes do passado espírita, enxergar mais longe e realizar um movimento espírita capaz de dar conta de sua proposta revolucionária cultural, renovando o saber, o ser, o conviver, o fazer e o transcender.
Faremos jus ao brilhante esforço dos que nos antecederam, se formos capazes de contextualizar suas lições na contemporaneidade e nos organizarmos em modalidades de atuação capazes de tornar o Espiritismo uma opção paradigmática – científica, filosófica, religiosa, artística – numa perspectiva evolucionista com vistas ao primado do espírito.
Mãos à obra, em 2013...
André Luiz Peixinho
Diretor Presidente da Federação Espírita do Estado da Bahia